(recomenda-se em tela cheia, volume alto, desprendimento e tempo disponível para associações possíveis e impossíveis)
Assim
Você foi um dia
O que nunca seria
Se não fosse a minha
fé Acredito no bonito
No lado fantástico
Por mais que esquisito
Seja
Pense Nisso
Na minha mania de acreditar
No puro prazer
Na diferença do ser/estar
Trecho de “ASSIM”
Letra: Rick Castro
Música: Rita Figueiredo
“Teu amor eu guardo aqui”. Morri, baby, que é ser-vivo de Outra forma, sem crer, a crer, acrer, acrer e ditar (
“coitados dos que crêem; vai ver que jazem crendo”). Acreditei. Transmutei.
Transcrimupassei, assim que comecei esse escrito. Te vejo do cosmo cor de burro-quando-foge, que é aquele dos
recém-mortos (
“quero já meu amor perto de mim, apertando-me a mão, palma-a-palma, oh, porque está tão longe, não veio”). É lindo. Daí, vemos a cor como reflexo que aparenta uma conformação improvisada em acorde com o ritmo do que se acha que são todas as coisas; daqui, vemos como luz que causa alteridade de ser o
néon do Outro: a cor burro-quando-foge como um cobre brilhante, triplicado (3) PV, sem 1 código de
felicidade programada.
Só de liberdade. Da participação ativa voluntária quando colocada diante de, em torno de, ou rodeada por sistemas estáticos ou de
movimentos voláteis, sendo que sua atuação modifica ou encerra mudanças de participações segundo sua vontade, e não segundo uma crença.
Transcendendo-as. Como o cosmo lilás cintilante, daqueles que já não precisam crer há muito tempo, daqueles que nem sabem mais, mas daqueles que são (tal como o amor, que
não tem que ser nada. Ele já é). O Willys, a Lygia, que são do cosmo de luz lilás cintilante. O primeiro diz que o objeto não é objeto, é habitáculo. Já a Lygia diz que o objeto não é
objeto, tem que ser experiência vivida. Que, no final, são as mesmas
tropicações.
Sim, porque a história humana (dos que crêem) é a superfície fervente da panela da
biologia ordinária; somos (fui) carnes que caíram num tipo de rede atrativa pelo devir da
História, que nos esculpe (vos esculpem) a partir da cultura, da consciência, das psicodelias, das tecnologias. Mas as mesmas pessoas que administram essa estória toda sabem que essa mesma
História (dos programas de linguagens formando capacidades felizes sem perceber a diferença entre ser e estar: os banqueiros, alguns escritores, alguns artistas, os publicitários, os jornalistas) está
chegando ao fim.
São as luzes dos seus cacos, amor, que te fazem todo, que eu trago comigo para me refazerem de novo. Aqui.
Transparente e luz (
“Algo é previsto pelo artista, mas as significações emprestadas são possibilidades, suscitadas pela obra, não previstas. Incluindo a não-participação nas suas inúmeras possibilidades também”). Em todo caso, é como se habitássemos esse limite impossível (ser/estar; viver/morrer) e a reversibilidade enigmática
(cor/cor) dessa gosma energética toda.
Nada é possível, tudo é possível, e continuamos à cata dos sinais, dos signos, dos comutadores.
O teu amor eu guardo aqui
mesmo. Nota: referências de outros mortos (dos cosmos lilás cintilante e cor de burro-quando-foge-cobre-brilhante) utilizadas aqui:
- Helio Oiticica, “Crelazer”, Revista Galeria de Arte moderna, 1967
- Helio Oiticica, “Parangolés”, Revista Galeria de Arte moderna, 1968
- Willys de Castro, “[Associações de Artes Visuais Novas Tendências]”, original datilografado sobre a Associação de Artes Visuais Novas Tendências. In Roberto Conduru, willys de castro (SP: Cosac Naify, 2005), pág 156
- Suely Rolnik,
A Geopolítica da Cafetinagem (2006).
- Erasmo Carlos em entrevista com Bia Corrêa do Lago. Programa “Umas Palavras”, TV Futura, veiculado em 01/03/2010 (porque os mortos só assistem TV aberta).
- Peter Pal Pelbart, “Suwa – Mais”. Palestra ministrada em 05/03/2010, Caixa Cultural, Rio de Janeiro.