Estabilidade provisória, instabilidade permanente. A entropia, grandeza termodinâmica correspondente à variação de estados inerentes num sistema, pode ser interpretada como um princípio de desordem ao nível microscópico.
Contempla, portanto, a dissolução da matéria e a liberação irreversível de energia no interior de um sistema, conduzindo-o a um funcionamento incoerente e instável.
Esse conceito, reapropriado para a esfera da arte e da cultura, se contrapõe ao pensamento moderno ainda dominante, que procura incessantemente impor a ordem sobre o caos da materialidade, a fim de transcendê-la.
Esta operação de controle é igualmente outorgada aos governos, com suas leis e forças policiais.
Porém, as manifestações sociais ocorridas de forma intensa nos últimos anos, no Brasil, na Europa e nos países árabes, deixam entrever o profundo processo de desestabilização constante do estado normalizado dos elementos – políticos, sociais, culturais – do nosso entorno.
Percebemos, então, a coerência arbitrária e provisória que define cada época.
As propostas artísticas aqui apresentadas evidenciam-se como sinais dessas oscilações e do caos subjacentes à contínua tentativa de ordenamento e estabilização das estruturas sócio-políticas coletivas e – pensando nas micropolíticas de poder foucaultianas – individuais e subjetivas.
Alexandre Rato, André Griffo, Andrei Müller, Daniel Murgel, Dirceu Maués, Milton Marques e Vanessa de Michelis recorrem à marginalidade como escolha política e problematizam tanto aspectos da sociedade e do indivíduo padronizado, quanto o próprio sentido atual da arte.
Causam interferências e ruídos ao tornar manifesto um mal estar contemporâneo e ao escolher assumir-se “sem lugar”.
Mostram o não acabado, o informe, a sujeira, o barulho, o híbrido, o inclassificável.
Fogem da fetichização tradicional do objeto artístico e do demarcar de suas fronteiras, a fim de imiscuir-se por outros terrenos, estabelecendo na prática uma relação ampliada entre arte, cultura e comunidade.
Manifesta-se, portanto, uma condição singular da contemporaneidade em sentir seu próprio tempo por meio “de uma dissociação e um anacronismo.
(...) Aqueles que procuram pensar a contemporaneidade puderam fazê-lo apenas com a condição de cindi-la em mais tempos, de introduzir no tempo uma essencial desomogeneidade” (Agamben, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Editora Argos – Unochapecó, 2009). ~
O sentimento contemporâneo está, pois, nessa inadequação ao presente e na percepção da coerência arbitrária e provisória que define cada época, percebendo a impermanência e a instabilidade entre coisas e ideias.
visitação
De 09 de janeiro a 06 de abril de 2014
abertura
25 de janeiro - 16:00 horas
acompanhamento crítico