A Performance da curadoria é uma proposição artístico-curatorial. Seu principal objetivo é compartilhar com o público um processo de criação derivado da investigação de questões pertinentes à atuação do artista e do curador, dois dos principais agentes em uma exposição de arte. O que resulta do diálogo colaborativo entre tais agentes e suas funções? É possível fazer do confronto entre autoria, produção artística e curatorial uma ferramenta de trabalho? Como a performance pode dar lugar a essas relações? Essas perguntas, que permearam todo o desenvolvimento da exposição, talvez possam funcionar a partir de agora como ativadoras da mediação com o espectador.
Os trabalhos apresentados foram criados por meio de parcerias inéditas entre artistas que vivem e trabalham em Estados brasileiros diferentes dos de seus pares. Para isso, cada uma das três duplas foi convidada a criar uma partitura de performance como peça gráfica que pudesse ser levada pelo público, lidando ainda com uma importante especificidade: deixar a realização das performances no espaço da galeria a cargo da curadora. Os convidados são: Alexandre Sá (RJ) e Aslan Cabral (PE) / Mariana Marcassa (SP) e Micheline Torres (RJ) / Margit Leisner (PR) e Yiftah Peled (SC/SP). Os convidados possuem práticas artísticas individuais, mas fomentam suas trajetórias participando de coletivos, contribuindo para espaços experimentais, desenvolvendo atividades nos campos da educação, curadoria e gestão junto a centros culturais, universidades e galerias. Mesmo atuando em diferentes contextos, suas práticas possuem certa paridade poética. Outro ponto comum na produção desses artistas é a realização e a pesquisa no campo da performance. Esse é um dos motivos pelos quais essa mídia híbrida, que se firma como linguagem artística na década de 1960, foi escolhida como um dos motes do presente projeto. Percebendo a arte da performance como um campo fértil para experimentação e reflexão, A Performance da curadoria constitui-se como um espaço de discussão de práticas artísticas performativas.
Apresentamos nesta exposição um projeto artístico eclipsado em um projeto curatorial (e vice-versa), que propõe reflexões, enfrenta limites e demarca intersecções.
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A performance da curadoria, por Daniela Mattos
Na exposição A Performance da curadoria, a performance curatorial realizou-se literal e ambiguamente pela ação da artista-curadora, espacializando e traduzindo, com seu gestual, sua voz, seu corpo, o que foi proposto nas partituras de performance desenvolvidas pelas três duplas de artistas participantes do projeto. Além das partituras impressas disponíveis ao público e dos resíduos materiais de cada performance, compõem a exposição registros em vídeo dessas ações e vídeos com os relatos de cada um dos artistas.
Em Dados de rotina com filtro, Margit Leisner e Yiftah Peled exploraram a performance em suas dimensões institucional e social. Desse modo, é o performer (que pode ser a curadora, o visitante ou um funcionário da instituição) quem decide e configura as situações performativas com os elementos presentes na exposição. Segundo diz Yiftah em seu vídeo-relato, o visitante é ativado a também “performar” em uma condição de participação colaborativa. Em sua fala, Margit destaca que a atividade de observar é algo comum ao repertório do performer e do público, tendo sido também importante para fomentar a realização dessa parceria. Alexandre Sá e Aslan Cabral desenvolveram a performance intitulada Estrangeiros.
No vídeo-relato, Alexandre questiona: em que medida é possível estabelecer uma relação de parceria onde o que há é distância e falta de intimidade? Já Aslan aponta que, em num processo em que tudo é muito difícil de construir, o que resta é se agarrar à desconstrução.
Curiosamente, a partitura de performance proposta pelos artistas acabou por provocar um insuspeito momento de intimidade entre espectador e curadora-performer. Mariana Marcassa e Micheline Torres propuseram uma forte experimentação com a fisicalidade do corpo em Cavalo de macumba. Com poucos elementos materiais, a performance buscou, na ação corporal intensiva do giro e da leitura de um texto (produzido especialmente para ser lido durante a ação), questionar o que uma performance desperta em quem a realiza – “que estado é este?”, como elas perguntam em sua partitura.
Mariana destaca, em seu vídeo-relato, que a partitura foi pensada para mediar a migração da experiência corporal para a palavra em suas dimensões escrita e oral. Já Micheline afirma que a densidade da experiência reside tanto na vivência da curadora-performer (ou de quem sepropuser a realizá-la) quanto na dos espectadores da ação.
visitação
De 12 de abril a 19 de junho de 2011
abertura
11 de abril - 19:00 horas
acompanhamento crítico